domingo, 22 de agosto de 2010

Da edição à leitura

Em tempo de férias, impõe-se também um certo afastamento da blogosfera, mas o contacto com os livros e a imprensa – o mundo em papel – que, por vezes, até se consegue reforçar, acaba por nos remeter sempre para esses outros espaços e suportes de que aqui vamos dando (alguma) conta. Foram estas descomprometidas incursões pelos periódicos mais conhecidos que nos conduziram até ao sítio mais “in” em matéria de política editorial e consequentemente também de divulgação de livros e leituras, onde se menciona também essa iniciativa particular de que eu muito gostaria de ter usufruído: a generosa oferta de livros do “bibliotecário de Babel”, José Mário Silva. Deixamos a nota e ficamos a aguardar os comentários do organizador e, eventualmente, dos herdeiros do seu espólio literário.

No silêncio das palavras de Orhan Pamuk

Que leituras nos têm entretido nos dias mais escaldantes ou nas noites mais prolongadas deste Verão de 2010? Destaco “a casa do silêncio” de Orhan Pamuk, que me deixou um travo amargo e um suspiro sufocado, devidos ao confronto permanente com a implacável marcha de todos os tempos que enformam e informam o nosso percurso de vida e o daqueles que connosco se vão cruzando e com quem partilhamos experiências e projectos.
Um livro que nos fala de um espaço, na Turquia, em diversos tempos e por várias vozes, pelo que o título do autor afigura-se-nos um paradoxo: um “silêncio” prenhe de gritos e vozes.
A temática da viagem é central nesta narrativa de O. Pamuk, que foca a deslocação para novos/diferentes percursos ou, utilizando a comparação que encerra a história deste romance, a abertura de novos capítulos. Foi simbolicamente que me aproximei deste romance do autor e o seu desfecho, associado ainda à data de conclusão do processo de escrita, veio sublinhar ainda mais esta relação simbólica (p. 313):

Porque, como repito agora, deitada na minha cama tantos anos depois, não se pode recomeçar a vida; esta viagem de sentido único, uma vez terminada, não pode ser reiniciada, mas se tiver um livro na mão, mesmo que seja um livro confuso e misterioso, podemos lê-lo, terminá-lo e, depois, podemos recomeçá-lo desde o início, se quisermos, podemos relê-lo, para compreendermos o que é incompreensível, para percebermos o que é a vida, não é Fatma?

1980-1983

Pelo que me foi dado perceber, esta não é uma obra emblemática da produção literária do autor, galardoado com o Nobel em 2006 , pelo muito que os seus escritos e reflexões têm contribuído para a revelação da riqueza e diversidade cultural da Turquia, um país onde se (entre)cruzam e realizam os mundos ocidental e oriental, dando uma expressão muito própria a essas múltiplas influências culturais; não obstante são já bem visíveis os traços da linha que norteará a sua intervenção pessoal e profissional.