segunda-feira, 5 de julho de 2010

Poetar - Luís Amorim de Sousa

O encontro de dois poetas portugueses, duas referências importantes da lusofonia, é assunto de mais um programa "Cãmara Clara", que nos apresentou o autor de Crónica dos dias tesos - uma obra onde a fome e o desejo ocupam um mesmo lugar preechendo toda a vida dos personagens, que se confunde com a do próprio autor,Luís Amorim de Sousa .
As referências de África não deixaram marcas profundas nestes autores, crescidos em Moçambique mas aspirando sempre pelo regresso à cultura europeia, admirada a partir de Inglaterra, onde acabou por falecer o poeta Alberto Lacerda, delegando no convidado do "Câmara Clara" e companheiro de muitas tertúlias, a missão de cuidar e divulgar o seu espólio. Esta função constituiu um (pre)texto para a conversa com Luís Amorim de Sousa, cuja poesia revela um conjunto de emoções contraditórias como as que se registam no poema seleccionado:

Inesperadamente
já não te espero ver quando abro a porta
mas ainda esbarro com a tua ausência

é tudo o que não foste
o que não fomos
que me atravanca os dias

o espelho em que me vejo empalidece
como um retrato antigo

sinto-me longe

é quinta feira
Março
o tempo não levanta

de resto aprendo que a monotonia
é apenas isto
o regressar contínuo
ao vazio das coisas

(Ultramarino, Luís A. de Sousa)