terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Terminemos este Conto :"A Casa dos Animais" de Lídia Jorge

Ainda não são conhecidos os vencedores do concurso "Terminemos este Conto", promovido pela CPLP, por isso estamos na expectativa de que um dos nossos alunos/participantes seja o vencedor, premiado com uma viagem a Cabo Verde.
Mesmo que tal não se verifique, é de louvar o empenho desses alunos, cujo trabalho queremos divulgar.
Seleccionámos alguns excertos da continuação do conto de Lídia Jorge, a partir do seguinte momento:

"(...) Agora sim, agora posso contar a minha vida..."

Versão I - Marta (10º. 2)

(...) E hoje, aqui estou eu, a ler um cartaz "Missing" com fotografias das minhas melhores amigas estampadas e que, por pouco, não incluiu a minha também. E agora só penso... Na noite do seu desaparecimento, o meu telemóvel tocou vezes e vezes sem conta. Seriam elas a implorar-me ajuda? Terei eu recusado oferecer ajuda às minhas amigas quando elas estavam em grandes apuros, apenas porque estava deprimida pela morte do "meu" gato? Afinal, era só um animal. A sua morte seria, em princípio, um processo normal, embora a morte consecutiva dos animais não fosse tão normal assim. (...) Uma noite, estava eu prestes a fechar a loja, quando dou de caras com a Lina. Fiquei tão radiante que nem disse nada, só conseguia abraçá-la. Ela estava com um ar frágil, estava abalada. Contou-me então que fora obrigada a entrar numa rede de prostituição, que tinha sido vítima de tráfico humano. Como era possível, em pleno século XXI, alguém ainda ser "escravizado"? (...) Os meses foram passando, e ainda hoje continuo a trabalhar na loja do senhor Ferreira e o meu amor pelos animais era agora ainda maior. Saber que graças a eles eu não estou agora a passar pelo mesmo que as minhas amigas, saber que eles me protegeram e que, de certa maneira, me "salvaram" a vida... é maravilhoso.Eles avisaram-me do pesadelo sobre o qual eu estava tão perto de embarcar. Agora só posso tentar viver a minha vida o melhor possível, mas sempre com a esperança eterna que a Ana Lúcia regresse sã e salva para que possamos ser de novo as três amigas que éramos.

Versão II - Joana (10º. 2)

(...) Assim conseguimos salvar o meu animal preferido, mas as minhas amigas desapareceram.Por um lado fico contente por não ter ido, senão também tinha desaparecido,sabe-se lá para onde, ou mesmo podia estar morta, mas por outrop lado, as minhas amigas, eu abandonei-as, isso também me pesa na consciência. Mas o que podia ter feito, o meu animal preferido estava a morrer, tinha de o salvar, custasse o que custasse.Eu era muito nova, comecei a trabalhar muito cedo, pois os meus pais morreram quando eu era ainda criança. (...)
Cá está a minha vida muito difícil, mas foi a minha vida, e agora estou aqui a contá-la.

Versão III - João (10º. 2)

(...) Levantei-me em sobressalto ao lembrar-me de um pormenor que há muito tinha esquecido: o livro do Sr. Ferreira. De Anima de seu título,estava ricamente enfeitado. A sua imagem passou então pelos meus olhos. É certo que nunca o abrira, e a estima que o seu dono lhe reservava era muito especial. Deu-me então uma enorme vontade de ir à loja procurar o misterioso livro, mas áquelas horas da noite já o Sr. Ferreira estava envolto nos seus lençóis. Foi uma noite que me pareceu passar muito devagar. Crescia-me a expectativa de poder desvendar estes acontecimentos. (...) Tirei então o livro da mochila. Facilmente me fascinei com as figuras gravadas na capa e aproveitei para ler alguns dos post-it que nela estavam colados. Eram pequenos apontamentos sobre o comportamento de alguns animais. Coisas normais como alimentação e cuidados com as raças mais caras. as primeiras páginas do livro apresentavam pinturas que se notavam bem antigas. Tinham vários animais e, entre eles, distinguia-se facilmente o Homem. (...) Durante as horas que se passaram,mergulhei num mundo onde simples cães, gatos e mesmo animais selvagens, através dos seus instintos e possíveis sinais, salvaram vidas (...) Vim a descobrir coisas extraordinárias, por vezes até retiradas do De Anima. Cães que detectam tumores, que salvam pessoas enterradas em escombros, etc. (...) Neste momento não sei onde está a Ana Lúcia ou a Lina. Não msei sequer se estão vivas.sei sim que tanto as carpas como a tartaruga, os roseicollis e o pequeno gato persa deram as suas vidas para me salvar de igual destino.Ainda me interrogo sobre o porquê de me terem salvo. Talvez a atenção que lhes dava, tudo o que lhes podia oferecer. E fico triste, triste por saber que morrer é o sinal que mais nos marca e que mais facilmente se manifesta.

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