segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Ler Crónicas e outros textos

Empenhados, os alunos do 10º. ano deixaram-nos o eco das suas incursões pelo universo das crónicas e de outros textos.



"No zoo-ilógico"

(Mia Couto - Cronicando)

«Zoo, ainda aceito. Mas lógico, porquê? As mais das vezes é mesmo ilógico: os animais com ordem de prisão, detidos sem outra legalidade que não seja a prepotência de nossa espécie. O senhor duvida? Então venha por outros olhos visitar o parque. (...)
Comecemos pelo falcão: já viram os olhos, como são felinos? Certo seria chamar-se de falgato. (...)
O leitão pequeno: o leitinho (...) O marisco, primeiro foi ao mar. Só depois foi isco. (...)»


"O taxista de Jesus "

(José Eduardo Agualusa, Fronteiras Perdidas )

« - O amigo acredita em Deus?
A pergunta apanhou-me desprevenido. Deus? Eu estava dentro de um táxi, tinha fechado a porta e indicado o destino. Ainda pensei em sair mas o carro já corria, às curvas, por entre o trânsito transtornado de Lisboa, Assim, acomodei-me no assento, suspirei fundo e preparei-me para o pior.
- Pois olhe - continuou o homem -, eu também não acreditava. Um dia, porém, estava aqui, ao volante, olhei para trás e quem é que vi sentado, muito sentado mesmo, onde agora está vossa excelência? Nosso Senhor Jesus Cristo !...»


A Lua Pode Esperar (Gonçalo Cadilhe)

«... Por vezes, as pessoas admiram-se com os sítios por onde já passei. Exclamam: só te falta mesmo ir à Lua! Provavelmente, se somasse os quilómetros que tenho no corpo, dava, de facto, para ir à Lua e voltar. Mas penso depois: ir à Lua para quê ? (...)



"A adivinha do mercado" ( Isabel Allende, O bosque dos pigmeus)
«(...) Na manhã seguinte, o grupo da International Geographic viajou numa avioneta até à reserva natural, onde os aguardava Michael Mushaha e o safari em elefante. Alexander e Nadia ainda se encontravam sob o impacto da experiência do mercado. Alexander concluiu que o fumo do tabaco da feiticeira continha uma droga, mas isso não explicava o facto de ambos terem tido exactamente as mesmas visões. Nadia não tentou racionalizar o assunto; para ela aquela viagem horrível era uma fonte de informações, uma forma de aprender, como se aprende nos sonhos.(...)»

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Como se faz um escritor...


Retrato do artista quando jovem


Quando por volta dos oito anos de idade resolvi dedicar-me à literatura imaginava que todos os escritores sem excepção se pareciam com Sandokan Soberano da Malásia.

(meu herói de então e de agora)

quer dizer, lindíssimos, morenos, de barba, olhos verdes e um rubi na testa a meio do turbante. O facto de ser loiro, de olho azul e sem rubi preocupava-me e cheguei a pensar em esfregar o cabelo com graxa de sapatos para escurecer as melenas: ainda experimentei na franja, fiquei igualzinho a um limpa-chaminés anão, perguntaram-me

- O menino é parvo ou faz-se? (...)

cheguei à conclusão que os escritores afinal eram todos cavalheiros gordos a chuparem barquilhos, de fato de linho branco, pasmados para as toiltes da Marijú. Abandonei o plano de me tornar Sandokan e passei a comer cinco carcaças com geleia de cereja ao pequeno almoço na esperança de ganhar barriga. (...)
e eis que descubro no primeiro ano do liceu (...)

um professor de ruga atormentada na testa como se os rins da alma lhe doessem que atravessava o pátio do recreio torcido por incómodos metafísicos. Um colega mais instruído revelou-me que o professor se chamava Vergílio Ferreira e publicava livros: observei-lhe melhor as úlceras existenciais (...)

o meu pai mostrou-me o retrato de Byron e eu decidi partir no dia seguinte para a Grécia e morrer em combate a recitar versos alexandrinos. Como não tinha dinheiro que chegasse par ao avião fui de camioneta a Vila Franca onde não existia uma batalha sequer. (...)"


António Lobo Antunes, Livro de Crónicas, pp. 203-206

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

À volta das Crónicas

É já na próxima terça-feira (13 de Novembro de 2007) que vamos dar início às nossas sessões, que terão os livros e a leitura como motivo principal.

Para começar falaremos de Crónicas.

Desde a Crónica que se queria objectiva de Fernão Lopes, até à subjectividade da Crónica actual,
um longo caminho foi percorrido pelos mais diversos Autores e Leitores.


















BOAS-VINDAS

A partir de hoje temos mais um espaço para praticar o crime da leitura. Aguardem notícias.
Fátima Pinto e Lurdes Cardoso